Os últimos dias foram marcados pela surpresa de uma crise política que ninguém desejava e que, sobretudo, o país não merecia. O Orçamento do Estado para o ano de 2022, um orçamento vincadamente de esquerda e de recuperação de rendimentos, foi chumbado por uma maioria dos deputados, que juntou alguns eleitos de esquerda, com toda a direita parlamentar. Em política, muitas vezes o tacticismo leva avante. E os eleitores, de forma soberana vão saber julgar as decisões.

Uma crise, quando estamos em plena recuperação económica e social devido à situação pandémica, não era de todo desejável. Vamos a factos concretos. Este trimestre, o PIB apresentou um crescimento homólogo de 4,2%, e a taxa de desemprego atual é a mais baixa dos últimos 20 anos. Temos hoje mais empregados do que no período pré-pandemia.

Era, igualmente, o momento do maior aumento de sempre do salário mínimo nacional, do aumento dos salários e das pensões. Do ponto de vista sanitário e económico-social, o Governo deu a resposta que era necessária e soube agir no momento certo. Foram mais de 8 mil milhões de euros colocados e investidos nas empresas para a recuperação económica e social desde março de 2020. O orçamento que foi chumbado era também o orçamento que previa o maior investimento público, tendo sido colocados em causa um conjunto de investimentos que serviam os interesses e o desenvolvimento do país.

Este é momento de devolver a palavra aos portugueses. E nenhum político pode ou deve ter medo de eleições. Elas são a base de uma democracia. E, naturalmente, é importante sublinhar a devolução da palavra aos cidadãos, que vão poder julgar as atitudes e decisões do poder político. Eu confio serenamente na escolha soberana dos portugueses. Estou tranquilo e certo de que os portugueses sabem avaliar as consequências que certas decisões colhem.

A par da crise política, esta é também a semana em que decorre a cimeira do Clima das Nações Unidas, a COP26 que reúne em Glasgow milhares de especialistas, ativistas e líderes políticos. Debater políticas públicas, tendo em vista as mudanças climáticas, é uma inevitabilidade. E espero que da Escócia saiam muito mais do que meras intenções. É necessário avançar para um novo paradigma, compreender que muitos territórios tem a sua existência ameaçada e que o futuro pode não existir se não atuarmos já.

Mas a sustentabilidade ambiental e as medidas de mitigação das mudanças climáticas não podem ser feitas sem uma visão social e justa. A transição climática deve defender os mais vulneráveis da sociedade e ser igual do ponto de vista territorial. E esse é um grande desafio. Também para ele temos que estar preparados.