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“Vai mas é vender brinquedos”. Como surgiu a ideia para criar a Science4you

Miguel Pina Martins recorda a pressão que sentiu quando, aos 20 anos, deixou uma carreira na banca para criar a Science4you.
9 Dezembro 2018, 10h00

O gestor Miguel Pina Martins e o jornalista Rui Hortelão são os autores do livro que conta a história da Science4you: “A Ciência de Brincar – Como transformar um trabalho de curso num negócio de milhões”. Esta é uma história de empreendedorismo que ultrapassou barreiras e que com apenas 1.125 euros se tornou uma empresa global. “Poucos acreditaram numa empresa que fatura mais de 20 milhões com vendas em mais de 50 países e 20 mil pontos de vendas”, escreveram os autores.

Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?

A ideia nasceu há um ano para explicar às pessoas como é que tudo aconteceu. Acredito que, de certa forma, a Science4you possa ser inspiradora para as pessoas que queiram também montar um negócio e fazer algo diferente. A empresa nasce de um projeto de final de curso, de uma pessoa que não tinha dinheiro. Juntei 1.125 euros. Errei e fiz coisas mal porque era uma pessoa sem experiência. Mas se as pessoas arriscarem, se os portugueses arriscarem, é possível fazer diferente. Hoje em dia, toda a gente sabe o que é uma startup e está familiarizada com a palavra ‘empreendedorismo’. Mas continuamos a precisar de fazer um pouco mais.

Fala várias vezes na palavra ‘vendas’. Começou por vender brinquedos sozinho, de porta em porta. Conte-nos essa história.

Saber vender é algo fundamental nos negócios e na vida. Temos que nos saber ‘vender’ nós próprios, em última instância. E isso acaba por ser fundamental, pois esse treino de vender, seja na papelaria, na livraria do bairro, ir lá com um catálogo, acabou por ser uma parte importante no percurso enquanto profissional e que tenho muito orgulho em dizê-lo. Tem que se começar por baixo.

Qual foi o primeiro brinquedo que vendeu ou criou?

Tínhamos uma linha de seis produtos iniciais focados na física. Depois descobrimos que a física não vendia muito, mais a química. O primeiro foi feito inteiramente por nós, o vulcão que ainda hoje vende e que acaba por ser um produto que funciona. Era uma empresa pequena com capital social reduzido. Tínhamos que apontar baterias apenas para aquilo que era possível fazer.

A sua família apoiou-o no empreendedorismo? Afinal de contas, passou alguns meses na banca de investimento…

Há uma frase que gosto de relembrar, que foi dita entre amigos quando tínhamos 20 ou 21 anos: ‘’vai mas é vender brinquedos’. Já havia uma pressão muito grande entre amigos. Muitos duvidaram porque abandonei um lugar cheio de futuro, que era a banca de investimento, para começar do zero.

Ainda tem o aconselhamento do mentor John Harper, ex-CEO da Hasbro, uma empresa norte-americana que produz brinquedos e jogos?

Continua a dar-nos uma ajuda. Na semana passada, esteve connosco uns dias a ajudar-nos a pensar na estratégia a longo prazo. O John foca-se muito no que é importante. Quando ele está cá, ninguém quer saber de emails, nem de coisas urgentes. Estamos ali a pensar no futuro da empresa e isso acaba por ser relevante, porque é uma pessoa com experiência na indústria, que passou por grandes empresas, e isso tem sido uma grande ajuda.

Tem valido a pena o investimento?

Vale a pena. Porque não é só naquele dia. Ele faz mais coisas durante o tempo em que não está cá. Acaba por ser uma forma de conseguirmos trazer know-how que seria muito mais caro se pedíssemos a uma consultora para nos dizer certas coisas.

Qual é o brinquedo que falta criar?

É uma pergunta difícil. Acima de tudo, o brinquedo que temos de criar são os brinquedos que conseguem manter-se e antecipar tendências. O slime (massa de modelar) acaba por ser muito isso. Foi algo que explodiu e toda as crianças sabem o que é.

Falou em antecipar tendências. Tem uma equipa atenta?

Sim. Hoje em dia, há muitas ferramentas a olhar para as tendências. O Google Trends faz a pesquisa e dá-nos índices do que é procurado. As pessoas pesquisam tudo no Google e ele dá-nos dados que revelam o que é que os utilizadores estão a pesquisar. Assim, conseguimos definir a tendência em certas alturas do ano, como no Natal.

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