Muitas pessoas têm, ainda hoje, dificuldades para criar um conjunto de slides para preparar uma apresentação. Há ainda quem procure informação online de forma muito rudimentar face ao potencial das ferramentas que tem disponíveis. Mas, a par disto, assiste-se ao crescimento acelerado de tecnologia, como a realidade virtual e modelos de inteligência artificial.

O nosso pensamento mais automático associa as tecnologias mais recentes a áreas profissionais mais ligadas à engenharia. Todavia, a transformação que hoje assistimos vai muito para além de uma área específica e toca-nos a todos.

Este mês de Junho, o Center for the Fourth Industrial Revolution, do World Economic Forum, publicou um Relatório “Top 10 Emerging Techonologies of 2023”. Nestas, gostaria de chamar a atenção para quatro: a Generative Artifical Inteligence, Flexible neural electronics, AI facilitated healthcare e o Metaverse for mental health.

Todas estas tecnologias emergentes têm implicações para os serviços de saúde mental e para o trabalho dos psicólogos, que, neste caso, têm contributos e um envolvimento que vai muito para além da saúde mental. Seja em toda a linha da mudança comportamental, do estudo de processos mentais ou do próprio funcionamento das inteligências artificiais e do desenvolvimento destas tecnologias.

As preocupações éticas e deontológicas e com os direitos humanos, os impactos da própria tecnologia no bem-estar das pessoas, a melhoria na acessibilidade aos serviços prestados ou as desigualdades no acesso e a potenciação dos trabalhos dos nossos profissionais, com aumentos de produtividade e efectividade das intervenções, parecem ser consequências transversais a estas tendências de tecnologias emergentes.

A preparação dos estudantes de psicologia para esta realidade a curto prazo é imperativa. É, também por isso, que ainda em 2023(resultante de um trabalho de cooperação em investigação e desenvolvimento, já com alguns anos, com o Hei-Lab) a Ordem dos Psicólogos disponibilizará a quem inicia a sua actividade profissional (através do estágio profissional/ano profissional júnior) um treino de dilemas éticos no âmbito da formação dos psicólogos júnior com utilização de realidade virtual, num projecto inovador a nível mundial.

Ao acompanharmos de perto, há vários anos, as ligações entre psicologia e tecnologia, construímos uma visão de ligação umbilical entre ambas para o futuro que é já hoje. Está, por isso, em curso um programa de desenvolvimento de competências digitais dos psicólogos portugueses, em conjunto com a INCODE, começando pelo autodiagnóstico dos profissionais de acordo com uma matriz de competências, naquele que consiste num projecto-piloto extensível a todos os profissionais liberais.

Simultaneamente, a OPP, numa parceria com a AHED – Advanced Health Education by Nova Medical School, promoverá a formação de psicólogos na utilização de realidade virtual aplicada ao exercício da profissão. Para os cidadãos, é importante saberem que os psicólogos portugueses estão a preparar-se para uma realidade, nada virtual, num caminho para a utilização das tecnologias emergentes como uma vantagem para a profissão e para as populações.

Com menos tempo em actividades de menor valor acrescentado e com melhores condições para a relação com os seus clientes, adaptadas para as necessidades do tecido económico e da sociedade, na compreensão dos impactos e nas intervenções para fazer face a novos desafios.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.