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Aviões sem passageiros? Companhias aéreas europeias voam vazias para não perderem ‘slots’

Muitas companhias aéreas já expressaram frustrações com concorrentes, apontando que a principal regra das ‘slots’ é “usa ou perde”, estabelecidas diretamente pela Comissão Europeia.
13 Janeiro 2022, 11h12

Algumas companhias aéreas europeias estão a voar sem passageiros para manterem as suas ‘slots’ nos aeroportos, numa altura em que a procura tem estado fraca, revela a “CNBC”. Após dois anos de dificuldades, em que a retoma das viagens aéreas ficou aquém do esperado, as companhias aéreas estão a adotar este modelo para manterem os cobiçados pontos de descolagem e aterragem nos aeroportos.

A indústria aeroportuária tem defendido esta gestão das companhias aéreas, notando que se tratam de espaços bastante cobiçados por outras companhias, e que as transportadoras mantém estes espaços por causa da viabilidade comercial, da conectividade e da competitividade.

Muitas companhias aéreas já expressaram frustrações com concorrentes, apontando que a principal regra das ‘slots’ é “usa ou perde”, estabelecidas diretamente pela Comissão Europeia. No entanto, esta regra foi suspensa em março de 2020 devido à pandemia de Covid-19, estando a ser gradualmente reintegrada nos aeroportos europeus, com as companhias a terem de usar 50% das suas ‘slots’.

Segundo a “CNBC”, a Lufthansa tem sido uma das companhias aéreas a praticar este modelo de negócio. A transportadora alemã já assumiu o corte de 33 mil voos durante o inverno devido à variante Ómicron mas precisa de realizar 18 mil voos para manter as suas ‘slots’, enquanto a sua subsidiária Brussels Airlines tem de realizar três mil voos até ao fim de março.

“Devido à fraca procura em janeiro, teríamos reduzido significativamente mais voos”, disse o CEO do grupo Lufthansa, Carsten Spohr, a um jornal alemão no fim de dezembro. “Mas temos que fazer 18 mil voos desnecessários no inverno apenas para garantir os nossos direitos de descolagem e aterragem”, disse o CEO.

Em outubro do ano passado, através de um comunicado, o CEO da Ryanair criticou a posição da TAP relativamente à ocupação indevida de ‘slots’. A empresa de Michael O’Leary apontou que a companhia aérea portuguesa estava mesmo a “açambarcar os slots de descolagem e aterragem no aeroporto da Portela”, quando não os utiliza. A Ryanair escreveu que o bloqueio é uma medida anticompetitiva por parte da TAP, impedindo a empresa irlandesa de obter espaços suficientes para crescer dentro da Portela.

O Airports Council International (ACI) mostrou apoio à posição definida pela Comissão Europeia e argumentou que a redução dos ‘slots’ foi “projetada para refletir as incertezas de um mercado duramente atingido e uma recuperação frágil para a aviação”.

“Algumas companhias aéreas alegam que são forçadas a operar grandes volumes de voos vazios para manter os direitos de uso de ‘slots’ nos aeroportos. Não há absolutamente nenhuma razão para que essa seja a realidade”, adiantou Olivier Jankovec, diretor-geral da ACI Europe, em comunicado.

Mas a indignação não tem sido só de outras companhias aéreas. Também alguns ativistas ambientais se demonstraram contra os voos desnecessários sem passageiros. Greta Thunberg foi uma das ativistas que se insurgiu contra este modelo, escrevendo na rede social Twitter que “a UE está certamente em modo de emergência climática” por permitir este tipo de voos fantasmas.

O sector da aviação é responsável por 14% das emissões de carbono nos transportes, sendo a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito de estufa, ficando apena atrás do transporte rodoviário.

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