Ainda é cedo para conhecermos os resultados que verdadeiramente interessam da Web Summit. Ou seja, que negócios, investimentos, parcerias e projetos foram gerados em Lisboa durante o evento. Mas já é seguro dizer que a Web Summit foi um sucesso do ponto de vista organizativo, da projeção internacional do país, da promoção da economia local e da capacidade de mobilização de empreendedores, inovadores e investidores de todo o mundo.

Apesar disto, não faltaram detratores da Web Summit. O evento foi visto como um “congresso de geeks” nas redes sociais, inspirou rábulas de humoristas (algumas brilhantes) e alimentou o ceticismo crónico da nossa elite conservadora. Ao invés, também não faltaram deslumbramento e descomedimento a alguns políticos, que viram na Web Summit o “santo graal” da economia portuguesa.

É verdade que, como qualquer “tribo”, o movimento empreendedor tem o seu jargão, os seus códigos, os seus comportamentos-padrão, as suas mundividências, as suas idiossincrasias… O excesso de anglicismos, o vestuário adolescente, a obsessão pelas tecnologias, o otimismo pueril, a informalidade pouco protocolar, tudo isto é facilmente alvo de chacota e tem sido usado para descredibilizar a Web Summit. Foi dada, aliás, muita importância mediática a acontecimentos colaterais ao evento, como as noitadas no Cais do Sodré ou os programas de surf, quando não era isso o mais relevante.

Para além da enfatização do lado caricatural da Web Summit, foram feitas críticas pouco rigorosas ao empreendedorismo enquanto fenómeno económico e social. Li mais do que um artigo empolando a taxa de mortalidade das startups, que é alta mas não tanto como foi apontado. Também não faltou quem duvidasse da utilidade social e das potencialidades económicas das tecnologias digitais, sem esquecer os que descreveram visões distópicas de uma sociedade sem privacidade ou empregos.

Se nos ficarmos pelo caso português, as startups faturaram em média 70 mil euros em 2015, foram responsáveis por 18% do novo emprego gerado entre 2007 e 2014, e as exportações representaram, em 2015, 63% do seu volume de negócios. Das startups nascidas em 2007, 33% estavam ativas em 2015 (dados da Informa D&B) – o que significa que cerca de um terço sobreviveu, contrariando a ideia de que mais de 90% destes negócios falha.

Por outro lado, é conhecido o sucesso de startups portuguesas de base tecnológica como a Veniam, a Farfetch, a Uniplaces, a Talkdesk, a Feedzai, a Science4You ou a Seedrs. Não estamos a falar de trocos! Trata-se de empresas que geram lucros significativos e atraem investimentos avultados, para além de terem um grande potencial de crescimento e criarem emprego qualificado. E há também o caso de antigas startups tecnológicas que são hoje PME consolidadas, como a Critical Software, a Crioestaminal, a Nova Base ou a Alert.

Apercebi-me da longevidade e sustentabilidade de várias empresas inovadoras ao rever os vencedores do Prémio do Jovem Empreendedor da ANJE, que neste último fim de semana conheceu o seu 18.º vencedor: a startup de software para hospitais UpHill. Constatei, então, que a maioria dos premiados se encontra em atividade e alguns com muito sucesso, como as já referidas Critical Software e Crioestaminal mas também a Biosurfit, a Ative Space Technologies ou a Medbone.

Donde, o anúncio da morte precoce das startups é manifestamente exagerado…