Se Christophe Le Frian, ou Bob Sinclar, tivesse escrito o famoso “World Hold On” este ano e não em 2006, seria o hino desta crise. A economia internacional está em coma induzido. Na Europa, o desemprego aumentou no mês de março 950 mil no Reino Unido e 900 mil em Espanha; na Áustria, o aumento foi de 66%, e duplicou na Irlanda.

Em Inglaterra, o primeiro-ministro, o seu assessor especial David Cummings, o ministro da Saúde e o Chief Medical Officer Chris Whitty estão infetados, o que levou Neil Ferguson, perito em epidemiologia, a dizer que “há muito Covid-19 em Westminster”. António Guterres referiu-se-lhe como o maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial. Em termos sociais, só há paralelo com a queda do muro de Berlim; em termos económicos, num mês ultrapassámos 2008.

Se a estratégia social tem sido sido orientada para manter as pessoas vivas, a prioridade económica é manter as empresas vivas. As consequências deste primeiro mês de confinamento generalizado são enormes: o Purchaising Manager’s Index, que cobre indústria e serviços, caiu de 52 para 17 na Itália (50 é o ponto em que não se espera nem subida nem quebra de atividade), em França terá sido 27, na Espanha 23 e na Alemanha 32. Na Europa a queda foi de 52 para 30. Nos EUA, o LA Times diz que “a economia está em queda livre” – o aumento do desemprego foi de 3,3 milhões numa semana e a FED não exclui a possibilidade da taxa de desemprego se poder aproximar de 30%.

Quanto vai custar esta crise? Para Thierry Bretton, 3% do PIB com um mês de confinamento, 5 a 6% com dois. Há quem ponha a fatura a 10% do PIB em 2020, mas na verdade hoje ninguém sabe pois há duas grandes incógnitas: quanto tempo vai durar o confinamento e a que velocidade se vai recuperar (é a segunda que explica porque é tão importante preservar o sistema produtivo o mais intacto possível).

Mas algumas conclusões é possível antecipar.

Primeira, não é claro o que acontece à drive populista que estamos a viver. Se historicamente os populismos ganharam em momentos de crise social, numa profunda como esta não se dão cheques em branco. Johnson, Macron, Merkel, Conti, estão a ganhar popularidade. Segunda, a economia de mercado não responde bem e depressa a estas situações, é preciso um comando central e uma estratégia adequada, numa base temporária e com regras para evitar tentações autocráticas. Terceira, os sistemas de saúde saiem reforçados no seu papel social e devem ser planeados com alguma redundância pois, à semelhança dos sistemas elétricos, não pode haver apagões.

Duas direções se apontam para reduzir o custo da redundância: a coordenação supranacional desta capacidade, com coesão, evitando episódios como a guerra das máscaras entre França e Suécia; e o desenvolvimento duma competência básica em saúde na população, adormecida mas que desperta quando há necessidade. Até lá, diz Bob Sinclar: “World, hold on!”.