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World Monuments Fund seleciona Gares Marítimas de Alcântara entre 25 lugares no mundo a preservar

A convocatória para a edição de 2022 recebeu mais de 225 candidaturas. Foram selecionados 25 projetos, prova do valor histórico e artístico das Gares Marítimas de Alcântara e Rocha do Conde d’Óbidos, em Lisboa.
  • © Porto de Lisboa
3 Março 2022, 16h45

A World Monuments Fund (WMF) é uma organização não-governamental internacional com sede em Nova Iorque, que tem como principal missão preservar lugares com valor histórico e cultural em todo o mundo. As Gares Marítimas de Alcântara e Rocha do Conde d’Óbidos foram selecionadas pelo programa Watch 2022, do WMF, como um dos 25 lugares que exigem uma preservação urgente.

O projeto apresentado pelo Porto de Lisboa foi analisado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e por um painel independente de especialistas em património internacional, e escolhido para ser apoiado por enfrentar três ameaças: a preservação da herança cultural face aos desafios colocados pelas alterações climáticas, o desequilíbrio turístico e a história sub-representada.

As Gares Marítimas de Alcântara e Rocha Conde de Óbidos constituem um património ímpar. Inaugurada em 1943, a Gare Marítima de Alcântara foi construída sob projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, no mesmo estilo modernista que a Rocha do Conde de Óbidos. Esta estava dedicada ao transporte de passageiros para a Europa, Brasil e ex-colónias portuguesas de África, ao passo que Alcântara completava as necessidades dos passageiros.

Pardal Monteiro encomendou ao pintor Almada Negreiros seis pinturas divididas em dois trípticos para cada uma das estações. À época, foram criticadas pelas autoridades do Estado Novo e estiveram na iminência de ser destruídas, situação evitada pelo então diretor do Museu de Arte Antiga, José de Figueiredo.

A obra de Almada Negreiros em Alcântara está classificada entre as melhores que o artista produziu. Os famosos murais, divididos em dois trípticos, receberam do autor o título “Quem não viu Lisboa não viu coisa boa” e “Nau Catrineta”.

A World Monuments Fund vai trabalhar com o Porto de Lisboa na conservação dos murais de Almada de Negreiros e ainda “na estruturação de uma estratégia de gestão cultural das gares”, estando prevista a sua abertura ao público e “a sua programação cultural, dentro e fora de portas, em colaboração com as empresas da área e outras instituições culturais que se pretendam associar ao projeto”, conforme comunicado enviado às redações.

Ricardo Medeiros, administrador do Porto de Lisboa realça a importância deste apoio pelo facto de isso permitir que se “reencontrem memórias que, ao longo dos anos, foram passando ao lado das narrativas oficiais: interessam-nos as Gares que assistiram às vagas migratórias do século XX, ao embarque dos soldados para África, à chegada de refugiados ou ao regresso das populações portuguesas no pós-descolonização”.

O responsável coloca também a tónica na oportunidade que a revitalização das gares constitui para “estreitar relações com as múltiplas culturas com quem partilhamos uma história e uma língua em comum”.

A realização deste projeto vai contar com contributos financeiros internacionais angariados pelo WMF em Nova Iorque, a par de contributos de mecenas privados nacionais e internacionais e também do apoio do Estado Português. A equipa responsável pelo seu desenvolvimento vai integrar elementos da Administração do Porto de Lisboa e do World Monuments Fund Portugal, da Associação ANSA – Almada Negreiros Sarah Affonso e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Mas não só. Também estarão envolvidos no projeto de conservação e valorização das gares instituições como o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, o Instituto de História de Arte, o Laboratório Hércules, no âmbito do Projeto O desvendar da Arte da Pintura Mural de Almada Negreiros – que tem vindo a estudar os murais do artista para poder aperfeiçoar as técnicas de restauro –, a Faculdade de Arquitetura de Lisboa e também a empresa Nova Conservação.

Outras intervenções do WMF em Portugal

O World Monuments Fund é uma organização independente que desde a sua criação, em 1965, se dedicada a proteger património de relevo em todo o mundo. Até ao momento, o WMF já contribuiu com mais de 100 milhões de euros para projetos, em mais de 300 lugares no mundo.

A filial portuguesa do WMF foi criada em 1993 como uma instituição sem fins lucrativos, reconhecida de utilidade pública, que tem como objetivo a conservação do património histórico e artístico português. Desde 1994, já financiou parcialmente obras de conservação e restauro em monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, a Estátua Equestre de D. José I ou os Jardins do Palácio de Queluz, entre outros.

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