No centenário do aniversário de Iannis Xenakis, a exposição “Révolutions Xenakis”, do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, celebra as múltiplas facetas de um dos precursores da transdisciplinaridade na transformação da música através da sua espacialização matemática.

Ao longo da visita à obra do compositor, arquiteto e engenheiro, entusiasta da matemática e da informática, é possível formular duas questões que povoam a arquitetura contemporânea: de que forma os computadores mudaram e ajudaram a Arquitetura? E como é que os arquitetos ajudaram a moldar esta mudança?

O início da digitalização da espacialização da música oferece a oportunidade de refletir sobre o que Xenakis designou como “cruzamentos fecundos entre arte e ciência”, no fundo, uma jornada pela computação musical através da interação humano-máquina.

A máquina de desenho musical “Xenatron” e o programa informático Gendy (GENeration DYnamique Stochastique) estão nos primórdios do cálculo automatizado de estruturas musicais, baseado em probabilidades e sons eletrónicos ilustrados. A UPIC (Unité Polyagogique Informatique CEMAMu), desenvolvida mais tarde e mais avançada, é um computador que permite a tradução mecânica de desenhos em sons, por meio da combinação entre uma prancheta de desenho, um lápis eletrónico, um computador e um altifalante, e possibilita, a qualquer pessoa, compor música, desenhar e corrigir o desenho depois de o ouvir.

Xenakis revela um discurso visionário, sensível, sobre um diálogo frutuoso entre o humano e a máquina, uma conversação sobre a inteligência em interfaces gráficas e visuais na formulação de teorias de desenho, caracterizadas pelos princípios matemáticos aplicados à música.

Para Xenakis, é graças à evolução da computação, nos anos 60 e 70 do século passado, que os “músicos têm à sua disposição um conjunto de instrumentos (…)” para “transformar a representação do mundo (…). Não tenho qualquer dúvida. Graças à tecnologia, é garantido que a música do passado e a música do futuro serão ouvidas como nunca”.

Estas interseções disciplinares traduzem-se, hoje, em vivências quando percorremos as obras arquitetónicas que desenhou com Le Corbusier, como o Convento de La Tourette, em França, ou em Chandigarh, na Índia.

A visão de Xenakis patente nesta exposição, tem de servir de mote para olhar para a relevância disciplinar da arquitetura nas suas associações com a matemática e a ciência da computação. Não é possível deixar de abraçar um conjunto de competências digitais exigidas nos nossos dias, pois são indispensáveis numa sociedade dominada pela ciência e tecnologia. A articulação entre inteligência artificial e inteligência humana é fundamental para a evolução disciplinar. E o aumento do trabalho em rede entre humanos e máquinas, e entre máquina e máquina, estende-se, também, à arquitetura de hoje.

Todos os dias, em todo o lado, a inteligência artificial está a mudar o nosso pensamento, conhecimento e realidade. Logo, é essencial promover ativamente a interação produtiva da arquitetura com outras disciplinas. Os arquitetos têm de estar cientes destas mudanças através do desenvolvimento de uma cultura comum, em que o arquiteto digital é motor de mudança.

Se visitarem a exposição, vão compreender como.