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Alexandria Ocasio-Cortez, a cara da ‘onda progressista Democrata’ e a principal ameaça dos Republicanos

O poder de Ocasio-Cortez é visto por muitos como uma ameaça direta aos conservadores. Com 29 anos, Alexandria é a principal ameaça dos Conservadores na Câmara de Representantes. “Ela não desafia somente o patriarcado – ela desafia as hierarquias de raça, classe e género de uma só vez, bem como o sistema capitalista”.
22 Janeiro 2019, 09h15

Parece que não, mas foi apenas há um ano que Alexandria Ocasio-Cortez servia cocktails e tacos num restaurante em Mahnattan, Flat Fix. Hoje, é a congressista mais nova a ocupar um lugar na Câmara dos Representantes e a principal ameaça da ala republicana.

“Não é suposto mulheres como eu não concorrem ao cargo”, disse a jovem de 29 anos durante a sua campanha a congressista de Nova Iorque.

Mas Cortez não só concorreu como congressista do estado de Nova Iorque, como também ganhou e destronou o veterano, Joe Crowley o congressista que já tinha dez eleições vitoriosas e que era apontado como um possível sucessor de Nancy Pelosi como líder dos democratas no Congresso. “Nós temos o povo – elas têm dinheiro”, disse ela no anúncio de campanha, acrescentando que ”é hora de entendermos que nem todos os democratas são iguais”.

Alexandria ganhou 57,5% dos votos com uma campanha que custou apenas 300 mil dólares, algo inédito.

A sua vitória impulsionou um movimento de um partido democrata em revolta. Alexandria faz parte de uma onda de candidatas progressistas que pela primeira vez está a invadir um espaço político liderado pelos republicanos, que tem vindo a diminuir, e que ambiciona tirar Donald Trump do cargo.

”Eu entendo a dor dos americanos da classe trabalhadora porque passei pelo mesmo”.

Apesar da sua idade tenra, Alexandria já tinha trabalhado na campanha do senador Bernie Sanders (independente, pelo estado do Vermont), apesar de ter perdido nas primárias para a eleição presidencial. Tinha estado nas manifestações de Standing Rock, onde os nativos norte-americanos contestavam os gasodutos de gás natural que iriam atravessar as suas terras no Dakota do Norte. Trabalhou de perto com os Bronx Progressives (bloco de políticos e autarcas liberais nova-iorquinos fundado em 2009) e os Socialistas Democráticos da América, fazendo lobby no gabinete de Crowley.

Filha de uma mãe porto-riquenha e de um pai nascido no Bronx (em Nova Iorque), Ocasio-Cortez cresceu numa comunidade de classe trabalhadora, onde viajava todos os dias 48 quilómetros para a escola. Mais tarde, formou-se em economia e relações internacionais pela Universidade de Boston, e durante esse período trabalhou para o falecido senador Ted Kennedy.

Depois da faculdade, voltou para casa no Bronx e trabalhou como diretora educacional. No entanto, foi forçada a procurar outro emprego quando a recessão chegou. Ocasio-Cortez trabalhou “turnos de 18 horas” como empregada de mesa e barman para ajudar a sua mãe, uma senhora que trabalhava nas limpezas, e ambas lutavam contra as várias hipotecas.

“A minha mãe limpava casas e era condutora de autocarros escolares, e quando a minha família estava a enfrentar os piores momentos, comecei a trabalhar como empregada de mesa e barman. Eu entendo a dor dos americanos da classe trabalhadora porque passei pelo mesmo”, disse numa entrevista à MSNBC.

A jovem ameaça do partido conservador

Nas eleições intercalares, Alexandria roubou o lugar na Câmara dos Representantes a Anthony Rappas, com 78% dos votos, e desde aí tem-se feito ouvir entre os veteranos.

Esta eleição significou uma mudança geracional — e é um sinal de que os progressistas, não alinhados com o discurso e a prática política tradicional do partido dos azuis, estão a ser ouvidos pela nova geração votante.

O poder de Ocasio-Cortez é visto por muitos como uma ameaça direta aos conservadores porque a própria existência dela como mulher jovem, latina e trabalhadora ameaça virar de cabeça para baixo a ordem social que mantém os homens brancos no poder há séculos (80% dos deputados republicanos são homens brancos com mais de 50 anos, e a maioria dos eleitores do partido é composta por homens brancos). Além disso, ela usa a sua posição e a sua plataforma para desafiar essa ordem – uma tentativa de separar o dinheiro da política, aumentar impostos aos super ricos e tornar as regras do jogo mais equilibradas.

“Ela não desafia somente o patriarcado – ela desafia as hierarquias de raça, classe e género de uma só vez, bem como o sistema capitalista que exige que os deputados sejam ricos antes de chegar lá”, citou o ”HuffingtonPost” a professora de ciência política do Occidental College, Caroline Heldman. “Isso é incrivelmente ameaçador.”

Comentadores e políticos têm criticado a sua inteligência, a sua roupa, até as referências às suas raízes na classe trabalhadora. Todos os dias surgem novos exemplos dessas críticas. Na semana passada, depois do ”Daily Caller” ter publicado uma fotografia de uma mulher nua sugerindo que era Ocasio-Cortez, a congressista disse no Twitter que a forma como é tratada pela direita é “completamente repugnante”. Alexandria, que conquistou mais de dois milhões de seguidores no Twitter e é actualmente uma das figuras mais conhecidas do Partido Democrata, parece gostar de responder aos ataques.

“É encorajador, porque eu estou no Congresso há poucos dias e eles atacam-me com esta artilharia toda”, disse a congressista numa entrevista recente. “Esperavam que a fotografia da mulher nua fosse a bazuca. Tipo, ‘vamos mandá-la abaixo’. Pessoal, vocês já gastaram todas as balas e todas as bombas. O que é que têm mais para mim?”.

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