O banco Barclays critica a “retórica” da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que pretende utilizar o leilão das frequências da quinta geração da rede móvel (5G) para estimular a concorrência no setor das telecomunicações em Portugal, considerando-a incorreta. A análise do banco está a pressionar a cotação das ações da NOS no principal índice bolsista português (PSI 20).
A telecom liderada por Miguel Almeida está a tombar 6,41%, para 2,86 euros, depois de o Barclays ter reduziu o preço-alvo (de 3,80 para 3 euros) e a recomendação [de equal weight para underweight] da operadora devido ao regulamento do leilão do 5G.
Numa nota de research a que o Jornal Económico teve acesso, o britânico Barclays diz que “a questão principal” no leilão do 5G é “se as novas regras serão economicamente muito pouco atrativas para um potencial novo concorrente”. Por um lado, o banco aponta que a ambição da Nowo [detida pela MásMóvil] ir a leilão “indica que o conjunto de regras ainda é atraente o suficiente para novas operadoras”. E esses cenário está a afastar os investidores da NOS.
Apesar do banco indicar, ainda, que as condições finais para o leilão do 5G são mais exigentes para novos operadores do que eram inicialmente, as regras finais parecem ser atrativas para a espanhola MásMóvil consolidar a sua estratégia em Portugal, através da Nowo.
Por outro lado, o Barclays aponta que o objetivo do regulador de estimular a concorrência através do leilão do 5G não deverá culminar numa redução de preços nas telecomunicações.
“Discordamos fundamentalmente da visão do regulador: o nível absoluto dos preços [em Portugal] está entre os mais baixos dos preços europeus, houve um investimento significativo na rede; os ROCE’s [retorno sobre o capital investido] estão baixos versus os pares europeus. E como noutros países europeus, o mantra do pró-consumidor/pró-concorrência não está a diminuir, continua até a subir”, lê-se na nota.
“Isto cria um paradoxo: as telecomunicações são cada vez mais essenciais na vida dos consumidores e necessárias para impulsionar a produtividade na economia, mas o poder dos preços e gastos per capita continuam a estar sob pressão, aumentando a fragmentação da indústria. Na nossa opinião, a crise da Covid-19, incluindo o aumento do trabalho em casa, mostrou claramente o papel de uma empresa com conetividade rápida e confiável como uma espinha dorsal da economia e da sociedade”, acrescenta.
O banco de investimento entende que a falta de poder dos preços, em Portugal, “deve-se em grande parte à intervenção regulatória e destaca-se quando comparados com a maioria dos outros setores europeus”.
A nota de research do Barclays reintroduz uma discussão antiga no setor. Por um lado, a Anacom entende que os preços das telecomunicações praticados no país são demasiado altos e, por isso, o leilão do 5G ao estimular a concorrência pode fazê-los diminuir. Por outro, as operadoras já instaladas entendem que os preços praticados são competitivos e que não se encontram entre os mais altos da Europa.
O Barclays considera que na discussão sobre como estimular a concorrência, dois aspetos deveriam ter sido analisados: “O nível absoluto do ARPU [receita média por utilizado] está entre os mais baixos (apenas a França tem o mais baixo); as receitas do setor das telecomunicações português diminuiu nos últimos cinco anos, conforme demonstrado por um relatório da Anacom”.
Assim, o banco de investimento britânico acredita que “a retórica” do regulador das comunicações poderá não ter o efeito desejado.
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