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Barclays critica “retórica” da Anacom no 5G. Ações da NOS pressionadas após análise do banco

Barclays indica numa nota de research que a ideia de estimular a concorrência no mercado das telecomunicações poderá não surtir efeitos no que respeita aos preços praticados junto dos consumidores. Por outro, indica que os termos do leilão ainda são atrativos para um potencial quarto ‘player’. Nota do banco gera tombo de mais de 6% da NOS no PSI 20.
11 Novembro 2020, 15h31

O banco Barclays critica a “retórica” da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que pretende utilizar o leilão das frequências da quinta geração da rede móvel (5G) para estimular a concorrência no setor das telecomunicações em Portugal, considerando-a incorreta. A análise do banco está a pressionar a cotação das ações da NOS no principal índice bolsista português (PSI 20).

A telecom liderada por Miguel Almeida está a tombar 6,41%, para 2,86 euros, depois de o Barclays ter reduziu o preço-alvo (de 3,80 para 3 euros) e a recomendação [de equal weight para underweight] da operadora devido ao regulamento do leilão do 5G.

Numa nota de research a que o Jornal Económico teve acesso, o britânico Barclays diz que “a questão principal” no leilão do 5G é “se as novas regras serão economicamente muito pouco atrativas para um potencial novo concorrente”. Por um lado, o banco aponta que a ambição da Nowo [detida pela MásMóvil] ir a leilão “indica que o conjunto de regras ainda é atraente o suficiente para novas operadoras”. E esses cenário está a afastar os investidores da NOS.

Apesar do banco indicar, ainda, que as condições finais para o leilão do 5G são mais exigentes para novos operadores do que eram inicialmente, as regras finais parecem ser atrativas para a espanhola MásMóvil consolidar a sua estratégia em Portugal, através da Nowo.

Por outro lado, o Barclays aponta que o objetivo do regulador de estimular a concorrência através do leilão do 5G não deverá culminar numa redução de preços nas telecomunicações.

“Discordamos fundamentalmente da visão do regulador: o nível absoluto dos preços [em Portugal] está entre os mais baixos dos preços europeus, houve um investimento significativo na rede; os ROCE’s [retorno sobre o capital investido] estão baixos versus os pares europeus. E como noutros países europeus, o mantra do pró-consumidor/pró-concorrência não está a diminuir, continua até a subir”, lê-se na nota.

“Isto cria um paradoxo: as telecomunicações são cada vez mais essenciais na vida dos consumidores e necessárias para impulsionar a produtividade na economia, mas o poder dos preços e gastos per capita continuam a estar sob pressão, aumentando a fragmentação da indústria. Na nossa opinião, a crise da Covid-19, incluindo o aumento do trabalho em casa, mostrou claramente o papel de uma empresa com conetividade rápida e confiável como uma espinha dorsal da economia e da sociedade”, acrescenta.

O banco de investimento entende que a falta de poder dos preços, em Portugal, “deve-se em grande parte à intervenção regulatória e destaca-se quando comparados com a maioria dos outros setores europeus”.

A nota de research do Barclays reintroduz uma discussão antiga no setor. Por um lado, a Anacom entende que os preços das telecomunicações praticados no país são demasiado altos e, por isso, o leilão do 5G ao estimular a concorrência pode fazê-los diminuir. Por outro, as operadoras já instaladas entendem que os preços praticados são competitivos e que não se encontram entre os mais altos da Europa.

O Barclays considera que na discussão sobre como estimular a concorrência, dois aspetos deveriam ter sido analisados: “O nível absoluto do ARPU [receita média por utilizado] está entre os mais baixos (apenas a França tem o mais baixo); as receitas do setor das telecomunicações português diminuiu nos últimos cinco anos, conforme demonstrado por um relatório da Anacom”.

Assim, o banco de investimento britânico acredita que “a retórica” do regulador das comunicações poderá não ter o efeito desejado.

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