Têm sido publicadas várias previsões acerca do fim da hegemonia do dólar como principal moeda do sistema de pagamentos e reserva de valor. Não é a primeira vez que abordo o papel do dólar, e continuo a defender que os rumores sobre a sua morte são bastante exagerados. É um tema atrativo, mas já com décadas e, por enquanto, sem grande aderência à realidade.

A prudência aconselha a reconhecer que onde há fumo há fogo. O assunto ganhou força com a merecida notoriedade de recentes e avultadas trocas comerciais que envolveram China, Rússia, Índia, Arábia Saudita e Brasil, quase sempre efetuadas em yuans chineses. Estas transações, que seriam normalmente efetuadas em dólares, tiveram o objetivo político de tentar mostrar que se podem usar outras moedas.

No entanto, foram essencialmente trocas bilaterais em que os países em questão têm de comprar e vender entre si. Ou seja, uma espécie de troca direta em que utilizar uma ou outra moeda de compensação seria pouco relevante. Muito provavelmente, os preços de referência dessas transações até terão sido calculados em dólares.

Os países, normalmente ditaduras e regimes com carinho pelo autoritarismo, têm vindo a descobrir que o dólar é uma das principais armas dos EUA e uma limitação aos poderes autocráticos, pelo que gostariam de fundar um novo regime monetário. Mas, para destronar o dólar, é preciso que haja uma alternativa melhor.

Esta coluna é relativamente exígua para desenvolver a tese, mas, apesar das várias decisões erradas que os EUA têm tomado nos últimos anos, o dólar continua sem rival devido à sua plena convertibilidade, profundidade do mercado obrigacionista, aceitação e reconhecimento globais, poucos controlos de capitais, política de não cancelamento de dinheiro físico e um banco central independente. É também a moeda de um país que ainda se caracteriza pela Rule of Law e por ser a maior economia do mundo, bem como a potência militar mais forte.