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Lucro dos CTT tomba 42,9% para 16,7 milhões de euros em 2020

A empresa liderada por João Bento justifica o resultado financeiro de 2020 com o aumento dos custos operacionais, decorrentes da subida do volume de encomendas, bem como pela “interrupção do correio” durante o confinamento e pelo “insustentável enquadramento regulatório e de preços”.
  • Presidente executivo dos CTT – Correios de Portugal, João Bento
16 Março 2021, 18h27

Os CTT- Correios de Portugal fecharam o ano de 2020 com um lucro de 16,7 milhões de euros, um valor que representa um tombo de 42,9% face ao resultado líquido de 2019, foi esta terça-feira anunciado. Em 2019, os CTT registaram um lucro de 29,2 milhões de euros.

A empresa liderada por João Bento explica a quebra com a “interrupção do correio” durante os períodos de confinamento e pela consequente “recuperação lenta”. Acresce o aumento dos custos operacionais, face ao crescimento do volume de encomendas, e o “insustentável enquadramento regulatório e de preços” no serviço postal universal. Os Correios sentiram maior dificuldade no primeiro semestre, sendo que a recuperação financeira verificada no último trimestre de 2020 evitou um decréscimo homólogo financeiro maior.

De acordo com as contas veiculadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) caiu 10,8%, para 90,5 milhões de euros, devido ao “forte impacto da pandemia” nas operações de correio e nos serviços financeiros e retalho. A empresa postal viu, ainda, as receitas crescerem 0,7%, para 745,2 milhões de euros, e os custos operacionais agravarem-se em 2,5%, para 654,7 milhões de euros.

“O forte dinamismo das alavancas de crescimento” na área de ‘Expresso e Encomendas’ e do Banco CTT permitiu que estes negócios “crescessem significativamente, compensando o acentuado decréscimo dos rendimentos” na área dos ‘Correios e Outros’ e na área dos ‘Serviços Financeiros e Retalho’.

Na principal área de negócio da empresa – ‘Correio’ -, a “pandemia acelerou a tendência de queda do tráfego do correio como resultado da aceleração da digitalização”. O impacto foi sentido tanto no tráfego do correio internacional como no correio publicitário. Os rendimentos operacionais do correio em 2020 atingiram 422,9 milhões de euros, uma redução de 10,3% face a 2019. “Excluindo o efeito do tráfego relacionado com as eleições legislativas em setembro de 2019, o decréscimo dos rendimentos no ano teria sido de 9,2%”, sublinham os CTT.

No último ano, o tráfego do correio transacional apresentou um decréscimo de 16,6%, “devido às quedas em todos os produtos, com exceção do correio verde, que registou um aumento de 40,9% e manteve o crescimento ao longo do ano”. No final de 2020, os CTT registaram um tráfego de correio endereçado de 516,9 milhões de objetos, uma redução de 16,5% face a 2019.

Encomendas impulsionam área de ‘Expresso e Encomendas’
No segmento de ‘Expresso e Encomendas’, a empresa liderada por João Bento observou os rendimentos operacionais atingirem os 193 milhões de euros em 2020, mais 26,6% do que em 2019. Só em Portugal os rendimentos operacionais ascenderam a 118 milhões de euros, mais 20,2% do que em 2019. “A performance do negócio em Portugal em 2020 resultou sobretudo do crescimento do CEP (Courier, Express and Parcels)”, lê-se.

“Em 2020, as restrições impostas à maioria dos setores da economia em virtude da pandemia de COVID-19 tiveram um forte impacto no perfil de envios, tendo-se verificado uma redução do tráfego B2B [segmento empresarial] no primeiro semestre de 2020 e um forte crescimento da atividade de e-Commerce (B2C, segmento de consumo) o que, aliado a um grande dinamismo comercial e reposicionamento dos CTT, resultou num elevado crescimento de volumes. No segundo semestre de 2020, verificou-se uma recuperação do B2B e manutenção do forte crescimento da atividade de e-Commerce”, detalha a empresa.

Por isso, os CTT apostaram em serviços digitais para o segmento empresarial, como a oferta ‘CTT Criar Lojas Online’, a aplicação ‘CTT Comércio Local’ e as feiras e showrooms digitais, “permitindo que os empresários, comerciantes e pequenos produtores pudessem continuar a vender, mesmo em período de confinamento”.

Em Espanha, os rendimentos do segmento ‘Expresso e Encomendas’ cresceu em 2020 39,6%, para 72,3 milhões de euros, face a 2019. O tráfego de objetos em Espanha disparou quase 58%, devido ao “forte dinamismo comercial na captação de grandes contas com tráfego B2C e do efeito da pandemia da Covid-19, que ocasionou um elevado crescimento de tráfego resultante de alterações dos padrões de consumo, que estimularam as compras em e-Commerce”. Este desempenho leva os CTT a quererem consolidar-se como um “operador de referência” no mercado ibérico.

Em Moçambique, na mesma área, os rendimentos dos CTT situaram-se nos 2,7 milhões de euros em 2020, 10,6% acima de 2019. “Os negócios CEP e da banca contribuíram positivamente para este crescimento”. Acresce que o desempenho no ano foi “penalizado não só pela pandemia, mas também pelo prolongamento dos conflitos militares nas zonas norte e centro do país que conduziram a uma contração da atividade económica”.

Banco CTT atinge lucro pela primeira vez, com mais de 500 mil clientes com contas abertas
Na área da banca, os CTT afirmam que o Banco CTT “atingiu pela primeira vez na sua história um resultado líquido positivo”. O banco lançado em 2016 registou um resultado líquido positivo de 200 mil euros. E, apesar do impacto da Covid-19 no contexto económico, os CTT garantem que o Banco CTT fechou 2020 com 517 mil clientes com contas bancárias abertas, “das quais 56 mil abertas durante o último ano”.

Desta forma, a 31 de dezembro, o Banco CTT registava 1.689,1 milhões de euros em depósitos, mais 31,6% do que em 2019. “O rácio de transformação no final do ano situava-se em 64,8%”, lê-se.

Em 2020, os rendimentos do Banco CTT ascenderam aos 82,1 milhões de euros, o que representa um crescimento homólogo de 30,5%. Do rendimento total registado, 12,9 milhões são proveem da 321 Crédito, empresa adquirida em maio de 2019. Excluindo o impacto dessa empresa, os rendimentos teriam ficado pelos 48,2 milhões de euros.

No final de 2020, o Banco CTT registava um total de 9,3 milhões em imparidades e provisões. Os pedidos de moratórios formalizados ascendiam a 40,4 milhões de euros (31,1 milhões correspondiam ao crédito à habitação; 6,4 milhões correspondiam ao crédito automóvel; e 2,9 milhões correspondiam a outros créditos). Tal representa 3,6% do total da carteira bruta de crédito.

“As moratórias privadas de crédito automóvel terminaram em 30 de setembro e atingiam, à data, representando 40,1% do total das moratórias formalizadas na altura. No final de 2020, cerca de 86,3% destes créditos estavam em situação de cumprimento”, indicam os CTT.

A área de ‘Serviços Financeiros e Retalho’ acabou por registar um decréscimo homólogo de 7,1% em 2020, para 44 milhões de euros. Os CTT explicam que esta área de negócio foi “fortemente influenciada pelas medidas restritivas do estado de emergência”, no segundo trimestre de 2020, gerando um efeito de “preferência pela liquidez e consequente menor apetite por investimentos financeiros a médio ou longo prazo”. Além disso, a limitação do acesso à rede de retalho dos CTT e as reduções de horários de atendimento das lojas penalizaram esta área.

Ainda assim esta área registou “uma recuperação significativa nos dois últimos trimestres do ano, em especial no quarto trimestre de 2020, com um crescimento de 10,7% face ao quarto trimestre de 2019”. Contudo, a recuperação foi insuficiente para evitar um decréscimo.

Os CTT empregavam, em dezembro de 2020, 12.234 trabalhadores (menos 121 do que em 2019), dos quais 11.671 em Portugal, país onde opera com 2.384 pontos CTT. Os gastos com pessoal caíram 1,6%, para 338,6 milhões de euros.

Os CTT encerraram 2020 com uma dívida líquida de 41,4 milhões de euros, mais 11,4% do que no fim de 2019.

Sobre as perspetivas de futuro, os CTT apontam que “em virtude de um novo confinamento geral, a partir da segunda quinzena de janeiro de 2021, antecipa-se um impacto negativo a nível económico e social, que irá afetar a sociedade em geral e os negócios do Grupo, o que poderá impactar as atuais estimativas elaboradas”.

Em 2021, a empresa espera “apresentar um crescimento de um dígito elevado no que se refere aos rendimentos operacionais, EBITDA a crescer dois dígitos, EBIT superior a 50 milhões de euros e investimento de 35 milhões, dos quais 15 milhões referentes a investimento em crescimento”.

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