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Susana Peralta: “Crescer pobre condiciona a vida inteira das pessoas”

A taxa de risco de pobreza caiu entre 2020 e 2021, mas mantém-se elevada, sobretudo entre as crianças e os mais velhos. Susana Peralta alerta que as crianças que crescem neste cenário “são amputadas na sua capacidade de criar futuramente capital”, o que prejudica o país.
16 Maio 2023, 13h54

Mais de 345 mil crianças vivem em situação de pobreza em Portugal , situação que pode condicionar todo o seu futuro e, consequentemente, o próprio país, avisou esta terça-feira a professora e economista Susana Peralta. O comentário foi feito na apresentação do relatório “Portugal, Balanço Social 2022”, do qual Susana Peralta é uma das autoras. Conforme já escreveu o Jornal Económico, este estudo promovido pela Fundação la Caixa, pelo BPI e pela Nova SBE mostra também que mesmo as famílias de quem trabalha não estão necessariamente fora da pobreza.

As crianças levam-nos para o futuro. Crescer pobre condiciona a sua vida inteira. É um tema fundamental de políticas públicas”, sublinhou a referida professora, que defendeu que a resolução desta situação deve ser feita através de transferências sociais.

E não é só nas faixas etárias mais baixas que a pobreza afeta o potencial das pessoas, acrescentou a especialista. “É importante percebermos que num país pobre há pessoas que não estão a ter acesso a todo o seu potencial produtivo”, salientou.

De notar que o relatório “Portugal, Balanço Social 2022” dá conta de que em 2020 a taxa de risco de pobreza subiu para 18,4%, tendo baixado para 16,4% em 2021. Importa destacar que não são só os desempregados que estão em situação de pobreza. Cerca de um em cada dez pessoas empregadas estão em risco de pobreza, num país caracterizados pelos baixos ordenados.

Além disso, a pobreza afeta de modo desigual os géneros: em 2020, revela o estudo, por cada euro recebido pelos homens, as mulheres ganharam 78 cêntimos, diferença que é mais acentuada entre as pessoas com escolaridade até ao ensino superior (nesse caso, por cada euro, as mulheres ganham 54 cêntimos).

Já num debate promovido sobre os impactos sociais da pandemia no âmbito da apresentação pública deste estudo, Hunter Halder, da Refood, fez questão de notar que há famílias que estão permanentemente em crise, mesmo nos períodos em que o país como um todo prospera. “Vivem sempre em crise”, afirmou, alertando que as famílias que vivem com insegurança alimentar veem os seus pensamentos muito focados nestas dificuldades.

Joana Silva, da Universidade Católica, frisou, por sua vez, que há várias décadas que Portugal tem os tais 20% de pobres, após as transferências sociais, o que significa que “algo não está a funcionar”. “Não se tira as pessoas da pobreza de helicóptero”, realçou a especialista, que destacou ainda a importância de ir avaliando e melhorando as políticas públicas, de forma consistente.

Da parte da DECO, por outro lado, Natália Nunes adiantou que o peso das despesas da habitação no orçamento das famílias tem aumentado e essa subida verifica-se “em famílias com menores rendimentos ou com prestações com taxas de esforço muito elevadas”.

Ainda assim, explicou que o crédito habitação “é aquela prestação que as famílias tentam pagar a todo o custo, com a ajuda, por exemplo, da pequena poupança que fizeram”, nomeadamente durante a pandemia.

Este comentário é feito numa altura de crise no mercado de habitação e de subida das taxas de juros, cenários para o qual o Governo já anunciou apoios, que muitas vozes já deixaram claro que são insuficientes. Aliás, a responsável da DECO sublinhou esta terça-feira que muitos apoios acabam por deixar os consumidores a sentir-se “defraudados”, porque a realidade não corresponde efetivamente ao esperado.

Já quanto à energia, Ana Paula Rodrigues, da Agência para a Energia, notou que Portugal tem “todo um edificado que não cumpre qualquer requisito de eficiência energética” e a aposta nessa área “deveria ser a primeira solução para a pobreza energética”.

A propósito, o “Portugal, Balanço Social” indica que, por exemplo, entre as pessoas pobres com 65 ou mais anos, 36% não conseguem manter a casa aquecida, o que poderá, depois, gerar problemas de saúde.

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