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CTT invertem tendência e lucro de 2019 poderá chegar aos 32,3 milhões de euros, segundo analistas

Correios de Portugal apresentam as contas anuais relativas a 2019 esta segunda-feira, após o fecho do mercado bolsista. No último ano, a empresa teve dois CEO diferentes e, por isso, as contas anuais serão o espelho dos obstáculos que duas equipas gestoras diferentes tiveram de enfrentar.
  • João Bento, CEO CTT
16 Março 2020, 08h15

O ano de 2019 ficou marcado por uma mudança radical na gestão executiva dos CTT – Correios de Portugal, mas a operadora postal terá conseguido recuperar do abrandamento sentido nas contas de 2018. Segundo a estimativa média dos analistas do Barclays, Caixa BI e CaixaBank BPI, BBVA, Santander e Jefferies, o resultado líquido da empresa foi de 32,3 milhões de euros em 2019, um valor acima dos 19,6 milhões de euros registados no exercício anual anterior.

Os analistas que acompanham a empresa antecipam, ainda, que o dividendo a pagar aos acionistas será de 0,25 euros, acima dos 0,10 euros com que os acionistas foram remunerados em 2018.

O consenso de analistas também apontam um EBITDA (lucro antes de juros impostos, depreciação e amortizações) médio de 101,2 milhões de euros, acima dos 90,4 milhões de euros verificados em 2018.

Já na rubrica de rendimentos operacionais, a estimativa média é de 726,7 milhões de euros, um valor quase vinte milhões superior aos 708 milhões observados na operação dos CTT em 2018.

A área do ‘Correio, Outros e Ajustamentos’ terá rendido aos CTT uma média de 479,4 milhões de euros, enquanto o segmento de ‘Expresso e Encomendas’ gerou 152 milhões de euros, valor que a confirmar-se representa uma estabilização da performance – em 2018, este segmento representou 151,2 milhões de euros dos rendimentos operacionais.

O Banco CTT terá gerado 60,8 milhões de euros e os ‘Serviços Financeiros’ dos Correios faturaram 34,2 milhões.

O ano de 2019 foi um ano conturbado para a empresa. Os primeiros seis meses foram marcados pela gestão de Francisco Lacerda, que tinha criado um plano de reestruturação a pensar em 2020, mas que em janeiro de 2019 já tinha apagado a presença dos CTT em 33 concelhos, após uma vaga de encerramentos de estações durante o ano de 2018. O facto fez com que no Parlamento se discutisse – uma discussão que ainda decorre – a hipótese da empresa postal voltar à esfera da gestão pública.

A liderança dos CTT assegurada por Francisco Lacerda ficou também marcada por uma queda dos lucros do primeiro trimestre de 2019 para os 3,7 milhões de euros, uma descida de quase 38% em termos homólogos.

Para isso contribuiu o desempenho do correio e outros serviços, com um prejuízo de três milhões de euros, ou do segmento das Encomendas, com 1,6 milhões de euros negativos. Nos primeiros três meses do ano, esperava-se que os serviços financeiros compensassem o desempenho fraco das áreas tradicionais da operadora postal, mas os serviços financeiros não cresceram de forma suficiente para compensar as quebras do correio e das encomendas.

A agravar os resultados da gestão de Lacerda, estiveram as observações do regulador das comunicações. A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) considerou que a qualidade do serviço postal universal dos CTT tinha baixado em 2018, levando a empresa a incumprir indicadores de qualidade de serviço a que está contratualmente vinculada.

A contestação política e social, mas também a tensão que se sentia entre acionistas e administração de Lacerda, fez com que o gestor saísse e, por isso, os último seis meses de 2019 foram geridos pelo atual presidente executivo da empresa, João Bento. O atual CEO dos Correios traçou um caminho diferente daquele que Lacerda trilhou e apostou na reabertura dos balcões encerrados e conseguiu um entendimento com a Anacom, iniciando um plano de reabertura de balcões e alcançando a aprovação do regulador para a densidade da rede postal.

Quanto ao que se passava na esfera política e envolvia a operadora postal, assim que chegou ao cargo de CEO, João Bento foi ao Parlamento afirmar, em junho de 2019, que não via problema na entrada do Estado na estrutura acionista dos CTT.

Um mês depois, foram conhecidos os resultados do segundo trimestre. Assim nos primeiros seis meses do ano de 2019, as receitas dos CTT fixou-se nos 355 milhões, em linha com os primeiros seis meses de 2018. Nessa altura, João Bento destacou o “regresso ao crescimento do resultado líquido dos CTT, reforçando a estabilidade dos rendimentos operacionais e verificando-se já o resultado positivo da aquisição da 321 Crédito“.

Em outubro, João Bento voltou a apresentar lucros. Nos primeiros nove meses de 2019, os CTT obtiveram lucros na ordem dos 22,9 milhões de euros, o que correspondeu a um crescimento de 99,7% face a igual período em 2018 (11,8 milhões de euros). Na altura, e em comunicado, a administração de João Bento garantiu que os números refletiam uma “melhoria operacional”.

A última vez que o CEO da operadora postal falou publicamente foi aquando da apresentação do rebranding dos CTT. Aí, afirmou precisamente que “não há maior prioridade nos CTT do que a qualidade” do serviço da empresa. João Bento ensaiava uma resposta ao que o presidente da Anacom dissera, que quando a empresa era pública os prémios estavam indexados à qualidade do serviço, enquanto hoje estão ligados à cotação das ações em bolsa.

Esta segunda-feira os resultados de 2019 serão conhecidos. As contas anuais serão o espelho dos obstáculos que duas equipas gestoras diferentes tiveram de enfrentar e poderão ser, a nove meses de terminar o contrato de concessão do serviço universal postal, um balanço à “saúde” da empresa.

As contas serão conhecidas após o fecho do mercado bolsista. Desta vez, excecionalmente, devido às medias de contingência da pandemia Covid-19, a empresa não vai dar uma conferência de imprensa.

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