[weglot_switcher]

Dois meses em contracorrente. PCP critica Governo ucraniano desde o início da invasão

Ao longo dos dois meses da invasão, o partido tem criticado o Governo ucraniano diversas vezes. Zelensky “personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi”, é um dos ataques mais recentes do PCP.
21 Abril 2022, 12h42

Desde a iminência da invasão russa à Ucrânia, que se iniciou a 24 de fevereiro, que o Partido Comunista Português se tem revelado crítico do país ocupado pelas forças de Putin. Em diversas declarações, os dirigentes têm apontado o dedo à NATO, aos EUA e à UE pela instigação do conflito, mas também ao poder ucraniano, sugerindo indícios de genocídio no Donbass e um Governo composto por neonazis e fascistas. Em 60 dias, houve espaço para críticas a Vladimir Putin e à Rússia, mas os comunistas têm sido muito mais duros nas suas críticas ao Governo ucraniano.

A 22 fevereiro, quando a Rússia deu os primeiros passos no sentido de invadir a Ucrânia ao reconhecer a independência de duas regiões separatistas da Ucrânia no Donbass, o PCP indicou que Ucrânia nunca cumpriu os acordos de Minsk.

“Quando alguns demonstram agora a sua preocupação com os acordos de Minsk, assinados há sete anos, é importante ter presente que o regime ucraniano não só nunca os cumpriu, inclusive de forma assumida, como impediu a concretização de uma solução política para o conflito no Donbass, sendo responsável por constantes violações do cessar-fogo”, referiram os comunistas em comunicado.

No dia em que se iniciou a guerra, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou que as declarações de Vladimir Putin refletem um “país capitalista” e representam “um ataque à União Soviética e à notável solução que esta encontrou para a questão das nacionalidades e o respeito pelos povos e as suas culturas”, defendendo a via do diálogo para a solução do conflito.

Mas no dia 1 de março, O PCP pronunciou-se contra a resolução do Parlamento Europeu que condenou a agressão à Ucrânia, indicando que dava “força à escalada, ao incremento da guerra, e dificultar o cessar-fogo e a solução negociada que se impõe no interesse dos povos e da paz mundial”.

A resolução, defenderam, tentava “impor uma visão unilateral e instiga à confrontação, à guerra” e ignorava “os atropelos aos princípios do direito internacional – dos quais tem uma visão seletiva, restritiva e instrumental – e as sucessivas decisões e provocações dos EUA, NATO e UE que levaram ao conflito na Ucrânia e precederam a intervenção militar da Rússia neste país”.

Poucos dias depois, o PS e PSD propuseram a extinção do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Rússia e o congelamento das relações bilaterais com a Duma, devido à ofensiva militar, e só André Ventura do Chega e o deputado comunista Duarte Alves ficaram de fora da proposta.

No dia 6 de março, aquando do comício para assinalar o 101.º aniversário do PCP, Jerónimo afirmou que o partido se opõe “às forças políticas que governam a Rússia” e que afirmar que o partido apoia a guerra na Ucrânia “é uma vergonhosa calúnia”, garantindo que os comunistas estão do lado da paz.

Durante o seu discurso, o secretário-geral adiantou que o PCP “condena” qualquer violação “dos princípios do direito internacional, da Carta da ONU e da Ata Final da Conferência de Helsínquia”, princípios esses que o partido “continua, em coerência, a defender”. “A guerra não serve os ucranianos, nem os russos, tão pouco os restantes povos europeus”, mas sim “a administração norte-americana e o seu complexo militar-industrial”, acrescentou.

Depois de não condenarem a invasão russa à Ucrânia no Parlamento, os comunistas votaram contra as medidas de integração para refugiados ucranianos na Câmara de Lisboa, pois estavam a trabalhar numa proposta mais abrangente e completa. “Importa não tratar a situação dos refugiados de forma restritiva ou discriminatória, abrangendo apenas alguns cidadãos em algumas circunstâncias e desconsiderando outros cujas circunstâncias merecem proteção com idêntica dignidade”, explicou João Ferreira no Twitter.

No discurso que inaugurou o início de um almoço com mulheres comunistas, em Lisboa, para assinalar o Dia Internacional da Mulher, Jerónimo de Sousa disse que é necessário acabar com a guerra e condenou todo o “processo de ingerência”, desde a intervenção dos Estados Unidos e da NATO à “recente intervenção militar” da Rússia.

Em relação ao massacre de Bucha, o secretário-geral do PCP defendeu uma investigação cabal e rigorosa sobre as mortes de civis na cidade ucraniana, conduzida por entidades independentes e sem “predeterminados julgamentos” que têm vindo a ser divulgados “pela máquina de propaganda que tem rodeado a guerra” e considerou que tem havido “comprovados exemplos” de operações de manipulação.

Afirmando condenar “todos os atos criminosos, incluindo em cenário de guerra, que tenham ocorrido ou ocorram em solo da Ucrânia, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia ou de outros países”, o PCP defendeu que “o que se impõe é pôr termo à escalada em curso e contribuir para o cessar-fogo e uma solução política negociada” entre Kiev e Moscovo.

Quando os partidos aprovaram a participação de Volodymyr Zelensky por videoconferência no Parlamento, que partiu de uma iniciativa do PAN, defrontaram-se com a oposição dos comunistas. A líder parlamentar, Paula Santos, justificou o sentido de voto afirmando que a AR deve ser “em defesa da paz” e não contribuir para a confrontação.

Assim, não surgiu como surpresa o anúncio de que o PCP não vai estar presente no discurso do presidente ucraniano, referindo Paula Santos que essa intervenção não é um contributo para a paz. “Aliás há sempre um apelo para intervenção da NATO na guerra, uma lógica do confronto para continuar uma situação e não encontrar uma situação pacífica para a paz”, indicou.

Para a deputada do PCP, a política de instigação do confronto com a Rússia só vai levar ao agravamento do conflito e à perda de vidas humanas. Para além disso, defendeu que Zelensky “personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de carácter para-militar, de que o chamado Batalhão Azov é exemplo”.

A última crítica pública ao Governo ucraniano, partiu do militante histórico António Filipe, que colocou o presidente ucraniano ao mesmo nível do nazi português Mário Machado. “Talvez alguém convide amanhã o Mário Machado para estar presente nas galerias. Os amigos são para as ocasiões”, escreveu nas redes sociais o atual assessor parlamentar do Partido Comunista.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.